segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Quem é o Cura d’Ars?

S. João Batista Vianney, o Cura de Ars, França nasceu em 08/05/1876 e morreu, não obstante os seus jejuns e penitências com 73 anos em 04/08/1959. Canonizado em 31/05/1925. Foi proclamado padroeiro dos párocos e será agora por Bento XVI proclamado padroeiro de todos os padres seculares e religiosos, no fim do ano sacerdotal, em 19 de junho. Isto é modelo para todos os padres, não obstante tenha vivido há 150 anos atrás. Ars era uma pequena aldeia com uns 250 habitantes que trabalhavam a terra, que pouca necessidade sentiam de religião. Quando ele chegou à paróquia ninguém o esperava. Quando rezou a primeira missa não havia ninguém. Mas este padre que não conseguiu aprender latim, que foi aprovado na filosofia e teologia só por comiseração, que não podia confessar no início, só celebrar missa, depois de passar algum tempo como vigário paroquial foi mandado para Ars, porque havia falta de padres. Este começou a rezar a missa todos os dias às 6h, quando a gente ia para a roça. Assim alguns entravam curiosos. Quando voltavam, às 11h, o padre estava dando catequese para as crianças e adultos também começaram a participar. Foram conhecendo a religião e pediam para confessar. Durante um trabalho persistente durante 10 anos, com muita penitência e oração conseguiu aos poucos mudar o estilo de vida dos habitantes de Ars. As bodegas tiveram que fechar, as blasfêmias foram diminuindo, o trabalho dominical na roça parando. Ars não era mais Ars. Aos poucos a sua fama de bom confessor foi se espalhando. Gente vinha das vizinhanças para confessar. No fim de sua vida, até do estrangeiro. Calculam uns que por ano atendia 80 mil pessoas, outros chegaram a dizer: 120 mil. Passava de 15 a 18 horas sentado numa cadeira confessando. “Eu vou lhe dar uma pequena penitência o resto faço eu”.

Durante o retiro aproveitei para ler a Encíclica do Papa João XXIII sobre S. João Maria Vianney propondo-o como modelo para os sacerdotes do mundo inteiro: Homem santo e praticante da obediência, pobreza e castidade. Homem de oração íntima e profunda. Homem apaixonado por Jesus na Eucaristia. Homem devotado ao confessionário. Quero deixar para vocês umas mensagens fortes deste padre que dispensou a cozinheira, e que se alimentava uma vez por dia com batatas, às vezes, cozidas para a toda a semana.
“Um bom pastor, um padre segundo o Coração de Deus, eis o maior tesouro que Deus pode conceder a uma paróquia”.
“Quantos têm dinheiro guardado e tantos pobres a morrer de fome”.
“Quando se quer destruir a religião, começa-se por atacar o padre”.
“O grande mal para vós párocos deplorava o Santo, é que a alma se deixa entibiar”.
“Quando o coração é puro não pode deixar de amar”.
“O sacerdócio é o amor de Jesus”.
“Quantas almas podemos converter com nossas orações”. “A oração, eis toda a felicidade do homem sobre a terra”.
“Ele está ali (na Eucaristia), Aquele que tanto nos ama, por que não o havemos de amá-lo?”
“Se quiserdes converter a vossa diocese, será preciso tornar santos todos os vossos párocos”.
“Deus está mais pronto em perdoar do que a mãe tirar o seu filho do fogo”.
Assim poderia nomear dezenas de mensagens fortes e testemunhos, mas estes bastam para proclamar com um peregrino de Ars: “Eu vi Deus num homem”.
Texto do Bispo D. Irineu, para a coluna Conversando com o povo de Deus, do Jornal do Povo.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Retiro em Vale Vêneto

Do dia 16, à noite até o meio-dia do dia 20/11, o bispo com os seus padres e diáconos fez o retiro anual pregado por Dom Gílio Felício, bispo de Bagé, em Vale Vêneto. Retiro, o que é isso? Vem de retirar-se. “E Jesus se retirou para a montanha para rezar”. Retirado, a gente reza melhor. O bispo com os padres e os diáconos se retirou. Eles deixaram as paróquias, o bispado. Desligaram-se das preocupações, compromissos, de tudo e vieram para longe para não serem perturbados por ninguém. Nem pelo telefone, nem pelos jornais e TV. Convidaram um pregador para conduzir o retiro. O horário é bastante light. Para fazer um bom retiro é preciso estar bem descansado. Por isso, o primeiro compromisso foi o café às 7.30, em silencio. Almoço e jantar também com fundo musical. Para a gente se encontrar consigo e com Deus o silêncio é fundamental. É um silêncio fecundo. Claro existe também o silêncio “vagabundo”, que é prejudicial. A casa de retiro das Irmãs do Imaculado Coração de Maria fica num ambiente paradisíaco. Como é bom escutar o canto dos sabiás, o chilrear das andorinhas, o martelar dos sapos, o chuá-chuá da corrente de água que passa no meio da casa.

Bem, o êxito do retiro depende 80% do quem o faz e 20% do pregador. Este é aquele que conduz o retiro com as meditações ou palestras. Ele indica os livros a ler, ou trechos da Bíblia para depois partilhar em grupo. Fizemos juntos o programa do retiro com os horários. Às 8.15 laudes (oração da manhã) com meditação. Tempo para leitura. Às 10h cafezinho. As 11.30 meditação e depois almoço e sesta. Às 14.30, hora média com mais uma meditação. Tempo para leitura. As 16.00 lanche e as 16.30 outra meditação. Missa concelebrada às 18h e depois o jantar. Às 20h Adoração do Santíssimo, no 1º dia, confissão dos padres, via sacra, e terço no 2º e 3º dia. Estou escrevendo estes pormenores porque a maioria das pessoas nunca fez um retiro ou também para os que já fizeram mas gostariam de saber como é o retiro de padres e diáconos.
D. Gílio começou dizendo que vai abordar o relacionamento do padre com Deus, com os irmãos e com a natureza. Estamos no ano sacerdotal, ano dedicado aos sacerdotes, que iniciou em 19 de junho e termina oficialmente em 19 de junho de 2010. O padroeiro dos padres é S. João Maria Vianney. Pediu que lêssemos a Encíclica do Papa João XXIII sobre ele e o livro “Pároco de Ars” de Walter Nigg. Falou-nos da falta de auto-estima que muitos padres têm de si por incrível que pareça. É preciso reavivar a consciência de que o sacerdote é o vigário de Cristo, é outro Cristo, é propriedade de Deus, consagrado. O mundo de hoje vive uma crise de identidade, de valores, de ralacionamento com a natureza, com a vida. Os presbíteros só formando uma família presbiteral unida ao bispo poderão enfrentar a situação. Esta família cultiva a amizade e promove a pastoral da amizade. Vive a alegria. Os sacerdotes mostram a identidade de sua igreja, quando constroem uma comunidade que escuta e acolhe, que celebra, e que vive a caridade, optando pelos pobres. A cruz faz parte da vida do sacerdote como de todo cristão. Fez parte da vida de Cristo. Cristo continua sendo crucificado nos dias de hoje nos inocentes, nos famintos, nos índios, nos afro-brasileiros, na mulher oprimida. Na cruz a salvação. Na cruz a glória. Eis alguns breves pensamentos extraídos das colocações de Dom Gílio. O espaço é limitado.
Agradeço a Deus por estes dias abençoados. Tempo de avaliação da caminhada. Tempo de projeção. Tempo de reflexão. Levo as seguintes perguntas: O que Deus quer de mim hoje? Qual o meu compromisso como bispo? Qual é a minha prioridade?
Texto do Bispo D. Irineu, para a coluna Conversando com o povo de Deus, do Jornal do Povo.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Finados

Finados o que significa? Vem de fim. Dia dos que findaram a caminhada da vida terrestre. Dia dos falecidos. Como Jesus fala da morte? Lázaro, meu amigo não está morto, mas dorme. Jesus compara a morte com um dormir. Aliás, cemitério significa dormitório, onde os mortos dormem. Jesus ressuscitou Lázaro e o filho da viúva de Naim. Esta ressurreição é um voltar à vida de antes. E ambos morreram de novo. Creio em Jesus que ressuscitou ao 3º dia. Creio na ressurreição da carne. O que significa? Jesus não voltou à fase anterior, mas inaugura uma nova fase. Ele não pode mais morrer. Ele é o vivente. Seu corpo é um corpo glorioso, transformado, não está mais sujeito à dor, não precisa mais comer, o faz somente para mostrar que não é um fantasma. Ele aparece e desaparece. Aparece atravessando paredes sem dificuldade. Depois de 40 dias ele volta definitivamente ao Pai, terminando assim a sua presença visível entre nós. Pede que nós continuemos a sua missão: Ide por todo o mundo e fazei meus discípulos todos os povos, ensinando-os o que ele tinha ensinado: instaurar o reino de Deus, de amor e fraternidade, amizade e solidariedade, justiça e verdade, paz e vida, partilha e alegria. Mas um dia chegaremos ao fim de nossa caminhada no corpo. Mas nós não queremos morrer. Lutamos. Resistimos. Por quê? Há um desejo em cada um de nós, que nós não colocamos, o desejo da eternidade. Por que então a morte? Isso mostra que a morte não fazia parte do plano inicial de Deus. O homem e mulher tinham recebido de Deus o dom da imortalidade. Adão e Eva revoltaram-se contra Deus. Comeram do fruto da árvore da ciência do bem e do mal. Até hoje os homens continuam se revoltando. E a morte entrou no mundo. O que é a morte?O fim de tudo? Um salto mortal no abismo (Miguel Unamuno)? Não. A vida não é tirada, mas transformada. Deixamos aqui o invólucro, o corpo. Saímos do espaço e tempo e entramos na eternidade, na vida eterna. Esta será uma vida sem dor, sem guerra, sem violência, sem vícios, sem casamento (Sereis como anjos, diz Jesus), sem morte.

Mas antes disso será o julgamento particular. Num abrir e fechar de olhos a criatura humana estará diante de seu Deus, que é a suma luz, crentes e “saramagos”, nesse momento verá com clareza toda a sua vida vivida. O bem e o mal que fez. Quem sabe, talvez lhe será dada a última chance de escolha entre o bem e o mal. Por Deus ou contra Deus. Os maus (os que morrem em pecado mortal e nele persistem) irão para a condenação (inferno) e os bons pra o reino de Deus, que lhes foi preparado desde o inicio (céu) e para os que morreram em pecados veniais irão passar pela purificação (o purgatório). Nada de impuro, nada imperfeito, trevas podem entrar no céu.

O que é o céu? É a vida no paraíso eterno (Ainda hoje estarás comigo no paraíso). Na Jerusalém celeste. Na moradia celestial (Na casa de meu Pai há muitas moradas). Na participação do banquete eterno ou então nas núpcias eternas do Cordeiro. Na felicidade de Deus. Na vida eterna. Céu é participar do repouso e da paz de Deus. “Dai-lhes Senhor o descanso eterno... Descanse em paz”. É participar do reino de Deus. É ver Deus face a face. Todas as imagens são apenas aproximativas. O céu é a plenitude. “Nenhum olho viu, nenhum ouvido ouviu o que Deus preparou para os que o amam”.

No fim da história da humanidade, ninguém sabe quando será, acontecerá a 2ª vinda de Cristo para julgar vivos e mortos. Então os nossos corpos ressuscitarão. O corpo também participará da glória eterna.

O que estamos fazendo hoje nesse cemitério depositando flores, acendendo velas, rezando missa? Isso não é só uma homenagem aos mortos, um gesto de amor e gratidão, mas a expressão de uma fé. Nós cremos com Judas Macabeu que os mortos sobrevivem e que a nossa oração pode ajudá-los. Colocamos os falecidos debaixo da cruz de Cristo para que o seu sangue redentor os lave de seus pecados. Podemos mesmo receber a indulgência plenária para eles. No dia da ressurreição as sepulturas de nossos cemitérios ficarão vazias. Será a vitória definitiva e total sobre a morte.

Texto do Bispo D. Irineu, para a coluna Conversando com o povo de Deus, do Jornal do Povo.